quinta-feira, 26 de junho de 2014

Entenda de que maneira o mediador de conflitos pode facilitar o diálogo na escola.

No ambiente escolar, conflitos acontecem diariamente por diversos motivos. Crianças brigam por brinquedos, adolescentes divergem pelos gostos e também há desacordos entre professores, alunos, gestão e coordenação. A escola, muitas vezes, é formada por pessoas com diferentes vivências e pontos de vista, o que a torna um campo fértil para as incompatibilidades, mas, ao mesmo tempo, abre caminhos para a compreensão de questões coletivas. De acordo com especialistas, cada conflito tem um potencial transformador e, quando mediado de forma integradora, torna-se uma oportunidade para o desenvolvimento e aprendizado.
Nesse cenário, surge o papel do mediador, um facilitador de diálogo que trabalha com rodas de conversa para que as pessoas possam solucionar o problema. “Para entender e mediar conflitos, é preciso atentar para os diferentes modos de agir, fazendo com que as pessoas envolvidas experimentem sempre se colocar no lugar do outro”, diz a publicação Formas Não-Violentas de Resolução de Conflitos, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos .
Segundo a mediadora e pesquisadora Ana Lucia Catão, para utilizar a mediação, a escola precisa ter uma gestão que favoreça a responsabilidade, o diálogo e o coletivo. “A situação de conflito faz parte da cultura institucional da escola, mas a prática da mediação ainda é pouco adotada pelas escolas. A Secretária Estadual da Educaçãode São Paulo, por exemplo, tem a experiência do professor mediador e oferece uma formação nessa área. Também há escolas que optam pela perspectiva que forma alunos para atuarem como mediadores e outras em que a possibilidade da mediação é aberta para todos”, explica.
Catão destaca que mais do que uma forma de resolver problemas de violência, a mediação de conflitos é um caminho para começar uma vida democrática na escola. “As pessoas aprendem a se escutar, a conversar diante da divergência, sem necessidade de concordar para atuar junto, consensuando algumas formas de ação. Isso é aprender a lidar com a diferença de maneira construtiva e criativa para que os pontos divergentes não sejam obstáculos, mas sim incrementos, riquezas que possam ser exploradas no que elas têm de produtivo”, explica.
A mediação utiliza o conflito como uma oportunidade para gerar mudanças no espaço escolar. “Normalmente, o senso comum olha para o conflito como uma coisa ruim, que precisa ser evitada, mas a desestabilização permite uma reorganização e não necessariamente o que vem depois vai ser pacífico. Contudo, a escola terá um novo jeito de se organizar e outros conflitos e desafios vão aparecer porque não há vida sem conflito. Tem uma frase da filósofa Hannah Arendt que diz ‘onde não há conflitos, há opressão’, então, nesse sentido, o conflito é algo saudável”, salienta Catão.
Aprendendo a dizer não
No Distrito Federal, a Associação Vivendo e Aprendendo atende alunos da educação infantil e desenvolve um projeto conhecido como “não gostei”. De acordo com o educador Pablo Martins, desde cedo as crianças aprendem que podem expor suas vontades e que precisam respeitar o espaço dos colegas de turma. “Compreendemos que a criança não é um lugar vazio onde nós depositamos conhecimento, a criança é ser pleno e nós possibilitamos que elas vivenciem atividades e desafios nos quais sejam capazes de aplicar suas percepções e potencialidades”, afirma.
O educador acredita que, de forma geral, na educação infantil, a escola entende que os professores precisam resolver tudo para as crianças, como se elas não tivessem suas necessidades e formas de gerar soluções. “Os conflitos dentro do espaço escolar são experiências ricas, eles não devem ser extintos, não devem ser vistos como algo ruim. O conflito é um momento impactante e de questionamento sobre a vida, sobre as relações e seus limites”, salienta.
Vivendo e Aprendendo é formada por associados – pais, professores e funcionários – que compõem o corpo escolar e dividem a responsabilidade do funcionamento da escola. Os alunos têm de 1 a 7 anos de idade. De acordo com Martins, muitos entram sem saber falar, mas já aprendem a importância da expressão e do diálogo. “A criança com um ano e dez meses, por exemplo, não entende que existe o outro, com desejos próprios e anseios, e é na convivência, nos conflitos de interesses e sensações, que ela vai descobrir isso. É nesse contato que a criança descobre o outro e é também nesse momento que nasce a sua individualidade, porque eu só sou eu quando existe o outro”, reforça.
Martins acredita que os alunos precisam de espaços em que eles sejam protagonistas e possam tomar a responsabilidade dos conflitos para si. “É preciso mudar o modo de reflexão, a hierarquia eleva o professor a um status de detentor do saber, onde a escola diz o que é certo e errado. Gerar descobertas a partir das crianças é possível por meio da solidariedade, autonomia e corresponsabilidade, isso acontece quando elas são protagonistas dos processos, quando elas expressam suas questões, suas vivências diárias e descobrem a necessidade de estarem juntos para resolverem problemas. Quando a solução nasce delas, elas se apropriam”.
Confira, a seguir, alguns materias sobre mediação de conflitos que estão disponíveis para download e consulta na internet.
Assembleias Escolares, da TV Escola.
Acesse em http://goo.gl/RQufRe

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