quinta-feira, 24 de julho de 2014

Atitude de professor gera discussão



Apeoc chama atenção para o fato de haver no país um desrespeito à figura do profissional de Educação

Fonte: Diário do Nordeste (CE)
Com o crescimento do uso dos smartphones, ficou fácil o registro de cenas do nosso dia a dia, muitos deles em salas de aula. O último caso a chamar atenção negativamente veio de uma instituição de ensino do Ceará. Um professor foi flagrado em vídeo tentando retirar à força uma aluna de sala, na escola Nossa Senhora das Mercês, em Itapipoca, a 230 Km de Fortaleza. A ação, que aconteceu na última segunda-feira (21) foi filmada por outro estudante e acabou sendo divulgada nas redes sociais. O sindicato dos professores ressalta o desrespeito enfrentado por profissionais de educação no País.
No vídeo, a jovem se recusa a cumprir a ordem de se retirar da sala e discute com o professor. Diante da negativa, ele tenta arrastar a aluna pelo braço, que resiste. Por três vezes, o professor Valdir Teixeira tenta puxá-la, em vão. De acordo com a estudante, de 13 anos, a situação não é inédita. "Já aconteceu outras vezes. Ele já fez isso com outra aluna e também já colocou o dedo na cara de uma outra aluna do primeiro ano", diz.
Sobre o caso, o professor nega ter havido agressão, mas reconhece que exagerou na atitude. "Ela tem um histórico, inclusive, por parte de outros professores, de mau comportamento em sala de aula. Diante do mau comportamento dela, eu solicitei que ela saísse de sala de aula. Ela me disse que não sairia porque eu não tinha autonomia para retirá-la. Neste momento, eu, infelizmente, devido às circunstâncias, cometi o ato falho de tentar tirá-la da sala. Você pode ver no vídeo que, quando eu tentei e ela se recusou, eu não insisti. Continuei a dar aula por mais 25 minutos e, no final, levei o caso à direção", afirma.
Ele alega, ainda, uma exposição injusta de sua imagem por meio do vídeo e desabafa sobre a situação enfrentada pelos docentes em sala de aula. "As pessoas estão colocando a minha imagem como se tivesse havido uma agressão, mas não houve. Sei que foi um ato falho, eu reconheço e peço desculpas aos pais da aluna, mas não concordo com a maneira como estão me condenando. Os professores, em sala de aula, sofrem situações de desrespeito e até mesmo de agressão, em alguns casos, todos os dias. Se o educador não pode tomar providências em situações como esta, que geração estamos formando? Que isso fique para reflexão", comenta.
Sobre o futuro na escola, que é da rede particular, o professor disse ainda aguardar, até ontem, uma decisão da instituição de ensino. "Trabalho há quatro anos na escola e tenho uma boa relação com todos. Tenho um nome a zelar e a direção da escola é quem vai decidir. Sou um educador e vou continuar sendo professor. Só peço que a sociedade reflita sobre a situação do professor em sala de aula".
O pai da estudante, Francisco Carlos de Souza, afirma que buscará na Justiça reparação pelo constrangimento sofrido pela filha. "Falei com o advogado e vou entrar na Justiça. Um professor desse não era para estar aqui nunca", reclama.
A coordenadora pedagógica da escola, Maria Vaneida Alves, apenas informou que as providências cabíveis já foram tomadas de ambas as partes, sem mencionar quais e que uma carta aberta sobre o incidente foi lançada a população. "São episódios que denigrem a imagem do profissional. Nós, enquanto educadores, temos de pregar a coerência e o respeito ao próximo".
Valorização
Sobre o caso, o presidente do Sindicato Apeoc, Anísio Melo, comenta haver no País um desrespeito à figura do profissional de educação. "Entendemos que a sociedade brasileira ainda não visualiza a importância que tem o professor e acompanhado desse processo temos ainda uma morosidade por parte dos governos de encontrar uma saída para a valorização deste profissional".
Para ele, o processo de aprendizagem segue em uma quebra da relação harmoniosa em sala de aula e a falta de orientação aos jovens no que diz respeito à valorização da escola, especialmente a pública, tem gerado cada vez mais situações de conflitos diretos entre mestre e aluno. O professor, acrescenta, deve ter as mais amplas condições de instrumentos que possam ajudá-lo a orientar o estudante a ter na educação o seu principal objetivo e o estudante tem o direto de ter todos os instrumentos que a escola possa oferecer para uma boa formação. O presidente do sindicato destaca que uma das ações para se romper essa situação é dotar as escolas de outros profissionais, como psicólogos, psicopedagogos, profissionais de saúde, que possam garantir ao aluno espaço para desaguarem suas lamentações e questionamentos sobre o próprio processo de aprendizagem.
Por outro lado, destaca ele, a sociedade precisa evoluir enquanto formação cidadã. "Apesar de termos, hoje, mais possibilidades de estarmos em uma escola, é preciso se trabalhar na perspectiva de uma educação cidadã, com escolas agregadas ao esporte e a cultura, para que o jovem tenha essa contribuição na sua formação".

2 comentários:

  1. Gostei muito dos textos desse blog. São muito interessantes, está de parabéns! Infelizmente a situação está um pouco crítica para os professores. O coitado é obrigado a ser interrompido descaradamente, desrespeitado de mil maneiras possíveis e ainda tem que aguentar conversinha de pai de aluno que sempre acha que a atitude do docente é incorreta e inadequada. Porém, educar os filhos para prevenir esse futuro desrespeito ninguém quer! É complicado, o professor sempre é o errado e o aluno sempre sai contando vantagem às nossas custas. Eles fazem o que querem porque sabe que a lei sempre os favorece. ;)

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  2. Concordo com a Miriã Pinheiro. Sou professora na rede púlblica e a situação está cada vez pior. Como se não bastasse todos os problemas de falta de educação dos alunos com os profesores, agora o nosso horror é o uso do celular em sala de aula. Isto ocorre o tempo todo. Quando vejo, retiro o aparelho do aluno, mas, muitas vezes quando os pais vem até a escola para buscar, defendem seus filhos. É triste.

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